(parte 3) As insuficiências das políticas de direitos
humanos
Luiz Alberto de Vargas
A própria natureza dos direitos humanos exige que, necessariamente, estes estejam em constante atualização e expansão. Ou seja, a cada momento histórico, os direitos humanos devem incorporar mais direitos, em novas dimensões, mais pessoas, aprofundando os direitos reconhecidos. Pode-se dizer que a melhor defesa dos direitos humanos é atualizá-los e ampliá-los.
Vivemos, internacionalmente
um momento de ponto-morto no avanço dos direitos econômicos e sociais, de não
de efetividade das normas constitucionais e internacionais, assim como de
paralisia dos direitos de novíssima geração, como os direitos ambientais. Os recuos provocados pelo Estados Unidos
sob a administração Bush são bastante eloqüentes.
Mas tais insuficiências e
incongruências não se esgotam na ineficácia dos direitos já existentes. Deve
dar conta também de históricas deficiências da política de direitos humanos e de
sua inadequação à realidade mundial.
Sem maior pretensão, se pode
apresentar algumas de tais
deficiências:
1. a primeira é a histórica
conivência - quando não aliança - de certas políticas de direitos humanos com
as políticas de supremacia das grandes potências.
Em muitos casos, os direitos
humanos foram usados como cavalo de batalha para denúncias de desrespeito aos
direitos civis e políticos em países de terceiro mundo, sem que se mencionasse
a responsabilidade do capitalismo em violações massivas dos direitos humanos em
todo o mundo (miséria massiva, extermínio populações, empobrecimento cultural,
genocídio de populações autóctones, destruição ambiental).
Não é mais possível que a
política de direitos humanos deixe de encarar a dura realidade do imperialismo
como o principal causa do desrespeito aos direitos humanos em todo o mundo.
A esse respeito, o Professor
português Boaventura Souza Santos, propõe a criação de um Tribunal Mundial para
julgar o capitalismo histórico, responsabilizando-o por sua cota de
culpabilidade nas violações massivas dos direitos humanos. Ainda que os
veredictos deste Tribunal sejam inexecutáveis, este seria um projeto pedagógico
de largo alcance político.
2. O segundo ponto é
desamarrar o nó da política internacional de direitos humanos. Estes foram
desenhados para, internacionalmente, serem desenvolvidos pelo Estado-Nação. Os
organismos internacionais mostram-se enormemente ineficientes para os desafios
da globalização e com a denúncia cotidiana de violação dos direitos dos povos.
Os organismos internacionais parecem desconhecer tais violações e, quando agem,
o fazem de acordo com os interesses dos países desenvolvidos.
Assim, o Conselho de
Segurança da ONU mostra-se sensível apenas aos interesses das grandes
potências, omitindo-se quando as violações de direitos humanos ocorrem por ação
ou omissão destas, como no caso de Kosovo e da Palestina.
Portanto, exige-se, como
pressuposto de uma política coerente e séria de direitos humanos, a
reformulação dos organismos internacionais, em especial do Conselho de
Segurança da ONU.
- o terceiro ponto, é o
problema do relativismo cultural.
A política de direitos
humanos sempre foi um produto ocidental, cristão, eurocentrista e, não raras
vezes, alinhou-se numa lógica de supremacia cultural e política. A idéia de uma
compreensão unívoca dos direitos humanos facilmente se torna instrumento das
grandes potências mundial.
Não se pode negar profundas
diferenças entre as visões sobre direitos humanos que existem, por exemplo, na
Europa e na África.
Somente se pode falar em
direitos humanos universais quando estas são fruto de um real diálogo
multicultural em âmbito de igualdade - e não como imposição dos países
autoproclamados mais avançados culturalmente.
Assim, urge a busca de
valores comuns entre as culturas, sem idéias preconcebidas e sem imposições
unilaterais, como forma de recuperar
"o potencial emancipador e o caráter utópico dos direitos humanos."
Assim, os direitos humanos
constituem frente de luta que interessa a todos os humanistas, que são
chamados, não somente a participar, mas dar a tônica dessa luta, que remete
para um futuro fraterno para toda a humanidade.